Os papéis invertidos do mestre Zunino (por Maria Luiza Gil)

Faz alguns dias que o nosso presidente deu esta infeliz declaração: "Eu sei que temos jogadores que gostam de sair, de se divertir, e isso, na minha opinião, é absolutamente normal. Eles estavam em horário de folga. Tanto que vou tentar manter um dos atletas considerado ‘baladeiro’ para o próximo ano", e não contente com uma só besteira, ele ainda acrescentou: "Uma coisa é certa: eu não quero montar um time de seminaristas".

Quer dizer então que pra jogar no teu time o jogador não precisa manter uma conduta séria, aquela que se espera de um profissional que depende 100% de sua força física pra realizar bem o seu trabalho?

Disciplina é o mínimo que se exige de um funcionário de qualquer empresa, e os jogadores do Avaí são, nada mais, nada menos, que empregados do Avaí Futebol Clube. Além do que, nós temos jogadores que levam a sério seu trabalho, e que acabam trabalhando em dobro pra suprir a falta de forma de seus colegas que se permitem uns excessos.

A torcida, quando abraça o time, busca ser correspondida, espera que os jogadores tenham o mínimo de condições de correr os 90 minutos regulamentares. Com que motivação vamos perder a nossa voz, berrando por atletas que trotam em campo?

O que nosso presidente está apoiando é uma involução do profissionalismo no futebol. É desse pensamento, desse apoio, que os jogadores precisam pra piorar sempre. Enquanto os times grandes investem em infraestrutura, para preparar seus atletas, o Avaí tem que investir em Departamento Médico pra consertar seus atletas. Ora, francamente.

Com a sua permissividade, senhor presidente, em pouco tempo, ao invés de 11 jogadores teremos um grupo de pagode jogando com a camisa avaiana. Afinal, pra que trabalhar seriamente se o teu chefe negligencia suas escapadas de vez em quando? Os verdadeiros profissionais vão dar lugar aos seus protegidos, baderneiros, porque ninguém é tolo o bastante pra trabalhar pelos outros. E enquanto o chefe se ocupa com essas declarações desastrosas nossos melhores jogadores lhe escapam entre os dedos.

Caio recebeu propostas que não podem ser cobertas pela nossa diretoria. Questão de prioridade? Emerson parece que está de malas prontas também. Mas pra quê manter Emersons e Caios se podemos contar com Rudneis e Robinhos?

E nessa vibe de valorizar quem não merece, ficam os baladeiros e se vão os nossos melhores jogadores. Pra que o time mude, e o Avaí cresça, senhor presidente, e preciso querer mudar. Isso começa nas cabeças, a sua, primeiro.

Posso até parecer fascista, mas esses são os ossos do ofício. Toda profissão tem suas privações e os nossos atletas não são melhores que ninguém pra querer regalias. Portanto, fechando o sermão, jogadores:

Não se sintam em casa. O Avaí não é a sua casa, o Zunino não é a sua mãe, e a torcida não é a sua empregada que faz o serviço por você.

O Avaí é a empresa para qual você trabalha, o Zunino é seu chefe, e (grosso modo) a torcida é quem paga o seu salário.

Então, enquanto vocês não jogam o futebol do Romário e Ronaldinho Gaúcho, bora trabalhar porque a vida não está fácil pra ninguém.